“Cor é valor”

Ao completar um ano de Akzonobel em setembro, Daniel Campos, presidente da unidade de tintas decorativas na América Latina, recebeu a reportagem da Revista Pintou na Artesp para mostrar sua visão do mercado. Carioca, ele é formado em Engenharia Aeronáutica, mas nunca exerceu a função. Depois da faculdade, Daniel ingressou na área de marketing na P&G, empresa em que permaneceu por 19 anos, trabalhando em diversas áreas comerciais da companhia. O executivo traz em sua bagagem profissional passagens pelos Estados Unidos, México e Peru – neste último, atuou como gerente-geral por quatro anos. Regressou ao Brasil em 2013 para liderar a unidade global de cuidados pessoais da Natura, onde esteve até o ano passado. Até que surgiu a oportunidade de ir para a AkzoNobel. “Não conhecia muito bem a empresa, apenas a Coral, por qual eu tinha muita simpatia. Mas, quanto mais eu conversava com as pessoas e conhecia a empresa, mais me deu vontade de vir. Eu cheguei e pedi para viajar pelo mundo e conhecer a empresa para aprender um pouco antes de iniciar as operações.”

Revista Pintou na Artesp – Depois de um ano de Akzonobel, qual sua visão da empresa?

Daniel Campos – Estou muito feliz de ter vindo para cá. É um desafio muito rico, não só em termos de negócio e organização interno, mas também pelo papel social que esse segmento tem. Eu realmente acredito que a cor tem o poder de transformar para melhor a vida das pessoas. Seja sua casa, seja sua rua, seja sua cidade. Existem vários estudos que mostram que a cor transforma sua relação emocional com todo o contexto. E quando você está melhor emocionalmente, sua autoestima melhora, você cuida melhor das coisas a sua volta. Nós temos um programa, que é o Tudo de Cor, que desde 2009 faz isso pelo Brasil. E realmente você vê essa alegria maior quando você está trazendo projetos associados a cor.

RPA – E do setor de tintas?

Obviamente é um momento difícil para o Brasil, mas eu sempre acho que crise é uma oportunidade. É uma excelente oportunidade de, em primeiro lugar, você repensar alguns conceitos, alguns paradigmas. E eu acho, vindo de um outro setor, que tem muita coisa de bens de consumo que a gente pode trazer para esse segmento. E acho que a segunda coisa que a crise traz uma oportunidade é que quem arranca primeiro na crise, começa investir primeiro, tem uma oportunidade de colher mais, ganhar mais e fazer os outros ganharem mais. Então a gente fez nosso deve de casa nessa crise, com muito foco em redução de custo, mas também já começamos a investir no final do primeiro semestre e vamos continuar todo o ano, pois realmente é o investimento que faz a categoria crescer no futuro. Os números de tintas imobiliária, por exemplo, caíram por três anos consecutivos. Eu acho que uma das coisas que aconteceu é que o investimento caiu nos últimos anos. A gente usa a crise como uma oportunidade de investir mais cedo, investir antes e, com isso, fomentar um crescimento da categoria já nesse semestre e nos próximos anos.

RPA – Quais investimentos você poderia destacar?

A gente tem uma oportunidade grande no Brasil quando olhamos o segmento, que é criar mais valor ao consumidor, aos clientes, aos pintores, aos arquitetos. Hoje em dia, no Brasil, como Coral, a gente merece R$6,50 por pessoas num ano. A gente tem o objetivo de, até 2020, chegar a R$ 10 por ano. Na Argentina hoje, com todas as dificuldades do país, são R$ 13 per capita que a Akzonobel conquista, com uma participação de mercado menor do que a gente tem no Brasil. No Uruguai são R$ 20 per capita. Em volume, o consumo de tintas não é muito menor do que nos outros países da América Latina. Mas em valor por litro, o Brasil é um dos menores do mundo. Então, desenvolver o segmento Premium no Brasil é uma grande oportunidade para todos, porque ganha o consumidor com um produto melhor, ganha o varejo que tem acesso a melhores produtos, ganha os pintores e ganha a indústria. Criar valor significa trazer inovação. Eu vivi muito em bem de consumo e tenho certeza que o consumidor, mesmo o de classe C, não busca preço baixo, busca máximo valor. Não é necessariamente o produto mais barato que vende mais num produto de baixo ingresso, até porque o dinheiro que foi mais difícil de ser ganho, será melhor investido. O barato sai caro. Então a gente tem uma oportunidade de trazer mais valor, com mais proteção, mais performance para as tintas, produtos com mais funcionalidades. Trazer mais cor, cor é valor. Temos a oportunidade de pensar a categoria de tintas como o primeiro passo da decoração, não o último passo da reforma. A gente tem a oportunidade de mudar isso. A campanha que lançamos esse ano, por exemplo, busca mostrar isso aos consumidores, somente mudar a cor, muda tudo. Outra coisa que também acho que é uma oportunidade é ajudar as pessoas a escolherem cor. Por isso nossos investimentos no Decora, no guia das cores, no Coral Visualizer. Muitas pessoas nem começam a pintar as suas casas por acharem difícil começar.

RPA – Como mudar isso?

A gente está muito satisfeito com os investimentos feitos. A gente sente uma diferença em fortaleza de marca. Estamos muito felizes com isso e a ideia é seguir investindo. Muito do investimento que a gente está fazendo na campanha de mostrar que cor muda tudo é fazer as pessoas quererem investir mais em tinta. Ao longo dos últimos 20 anos esse é um segmento que perde importância na economia. Bens de consumo depende muito de você. Não aceite que isso vire uma realidade, mude essa realidade, provocando, inspirando, ajudando as pessoas a evitar. Fazer mais pessoas entrarem na categoria, ajudando as pessoas a escolher cor. Mas não é só isso. Entre quem entra e quem sai do ciclo de compra fica pelo caminho.

RPA – O que fazer para evitar que as pessoas fiquem pelo caminho?

Muitas pessoas ficam pelo caminho por não conseguirem escolher um pintor. Então temos que ajudar a capacitar esse profissional. O outro é escolher a tinta. Ajudar essa navegação na loja é muito importante. E o terceiro ponto no comércio de bens de consumo que é a importância do ponto de vendas. Ter um profissional na loja capacitado é fundamental. A gente tem um investimento na navegação de ponto de venda, para ter um ponto de venda que inspire e facilite o consumidor a encontrar os produtos e conhecer os benefícios.