Experiência e otimismo

Não pense em falar de crise com Eduardo Nardinelli, presidente da Axalta. O Engenheiro mecânico de formação, com diversos cursos no exterior e MBA, entrou no setor de tintas em 2014, depois de muito tempo no ramo de autopeças. Para ele, o trabalho duro e as parcerias com os clientes são os segredos para superar os momentos difíceis. A reportagem da Revista Pintou na Artesp foi descobrir como foi esta adaptação ao nosso mercado.

Revista Pintou na Artesp – O senhor entrou numa época economicamente conturbada. Qual foi sua primeira análise do mercado?

Eduardo Nardinelli – Para quem já tem uma experiência profissional longa, não é a primeira crise que passamos no Brasil. Eu também trabalhei na China bem na época da crise de 2008, e trabalhei também nos Estados Unidos. Então, estamos acostumados a lidar com essas situações. Realmente ter mudado de empresa no momento em que o Brasil entrou em uma das maiores recessões da história foi um desafio importante. Eu tive a sorte de ter um time muito competente, clientes sólidos no mercado e isso facilitou muito. Tivemos que fazer uma reestruturação na empresa. Aqui no Brasil, a Axalta é muito forte no mercado de veículos leves, que foi um dos mercados mais afetados desde 2014 – nós participamos também de veículos pesados e outros mercados, como industrial e repintura. Mas, independente deste momento, nós temos tido um desempenho importante. A empresa é muito focada no cliente e no mercado, buscando sempre entender o que está acontecendo para suprir as necessidades do setor com produtos diferenciados. Isso também ajuda a Companhia a ter uma performance melhor.

RPA – Como os revendedores de tintas entram neste planejamento para driblar a crise?

Focando mais no mercado de repintura, que é bem importante para nós. O setor da repintura demorou mais para sentir a crise. Mas, com o aumento do nível de desemprego e da inadimplência, nós percebemos que os distribuidores e os revendedores começaram a ter uma venda mais seletiva. Isso fez com que o mercado ficasse um pouco mais enxuto. E a própria rede como um todo reduziu as compras diretas das indústrias, reduzindo o estoque para aumentar o capital de giro e investir no negócio.  Nós percebemos que nessa época de crise existem dois tipos de empresas: as que se destacam porque atuam mais rapidamente em serem enxutas, mais competitivas e mais eficazes, e as que realmente acabam desaparecendo do mercado. Isso é natural em todos os países e em todos os segmentos, nós vemos que o mercado está tendo uma retração este ano. Outro fator que também afetou este segmento, principalmente na linha de alta tecnologia, foi o fechamento de várias concessionárias. Centenas de concessionárias fecharam suas portas desde o início de 2015 e isso certamente afeta o mercado de repintura.

RPA – Axalta faz 150 anos, conte um pouco dessa história.

A Axalta está completando 150 anos de idade. Desde 1866, a empresa vem passando por aquisições, transformações, sempre buscando liderança de tecnologia, expansão e atender os clientes da melhor forma possível. Aqui no Brasil, a empresa existe desde 1963. Este ano, estamos completando 53 anos. Nesse tempo, ela já foi várias joint ventures e, no início de 2013, com a separação da divisão de tintas da Dupont, o grupo Carlyle adquiriu esta divisão e ela se tornou uma empresa independente, focada globalmente no segmento de revestimentos, e assim criou-se a Axalta. Em novembro de 2014, a empresa abriu o capital na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Desde o ínicio, nós começamos a trabalhar para fazer essa transição de marca, com um trabalho forte de comunicação. E no setor de repintura as marcas dos produtos são mais relevantes que a marca da própria fabricante. Para nós, a imagem corporativa é bastante importante e, no Brasil, nós divulgamos muito nossa marca com a participação na Stock Car. Nós temos uma parceria com a equipe C2 Team, com quem costumamos fazer uma série de atividades que ajudam para que a Axalta esteja cada vez mais estabelecida para o público final e para os revendedores. Com os clientes da indústria essa comunicação é mais fácil por envolver menos pessoas, o que faz com que a Axalta seja um nome conhecido nesse segmento.

RPA – Quais ações futuras para a fixação da marca definitivamente?

O canal principal para você comunicar é o trade, e não tanto o consumidor final. Porque quando ele leva o veículo para fazer um reparo, geralmente ele confia na oficina e nem sabe qual é a marca que está sendo usada para fazer o reparo no veículo dele. Então, a comunicação com os distribuidores, com os revendedores e com os pintores é fundamental. A aproximação que nós buscamos é usar o nosso programa de treinamento para poder cada vez mais expor as vantagens competitivas dos nossos produtos e gerar um maior conhecimento sobre quem é a Axalta, além de mostrar nosso foco no cliente. Esse tipo de atividade ajuda muito a fixar a marca.

RPA – Qual a sua expectativa para o futuro do mercado? O senhor poderia dar algumas dicas para os empresários do setor?

É muito importante separarmos essa análise em duas partes. A parte que você não controla, que é a economia e toda a influência que ela tem no seu negócio. Mas realmente se espera uma estabilização e uma melhora para o próximo ano. A expectativa de todo brasileiro hoje é que a crise está chegando ao fim do poço e que agora exista uma estabilização e depois um crescimento escalonado. A outra parte, bastante relevante, é a que está em nossas mãos: focar no cliente, procurar atendê-lo da melhor forma possível, sendo competitivo, trabalhando com custos bem enxutos (o máximo que você puder), com atendimento exemplar, produtos de boa qualidade, controle de estoque, para que o cliente saia sempre satisfeito e volte para seu negócio. A crise é um momento onde você tem a melhor oportunidade de melhorar sua interação com seu cliente. Estando de mãos dadas, as coisas ficam facilitadas para ambos.

RPA – O senhor está otimista?

Eu estou otimista e sou realista. Queremos continuar lançando novos produtos, oferecendo treinamentos e desenhar um futuro melhor, buscando fazer melhor a cada dia. É assim que nós esperamos continuar crescendo. Apesar das dificuldades dos últimos anos, com essa estratégia nós temos conseguido um bom desempenho.